terça-feira, 11 de março de 2008

É o som do mar.

É o som do mar. Tudo o resto é cinzento claro. Ainda ontem era madrugada e toda uma história foi contada ao vento. Ainda hoje era noite e eram as palavras que ficavam perdidas no frio. Era chuva. Eras tu. Era o instante que já tinha passado e as estradas molhadas a desfocar o caminho. Só o silêncio outra vez. E mais uma eternidade de pensamentos. A nitidez de um sorriso. os passos lentos na direcção descontínua do teu olhar cansado. A intensidade de uma espera. De mais um segundo ou de mais uma vida. Irrelevante. A seriedade das estrelas intactas. O movimento parado de mais um dia. Pudesse esta saudade ser minha ou esta história ser nossa. Podia ter sido ainda ontem ou ainda hoje. a água que se infiltra na alma e no corpo. O que foste para além do que poderias ter sido? Só o que ias sendo. O que fomos para além da noite?
Quando passei muito levemente por nós não reconheci as tais palavras desconhecidas nascidas da humidade dos mais submersos pensamentos. Passei levemente, muito levemente nesse labirinto vazio da razão e mais uma vez me perdi na angústia do ser.
Ainda cheira a terra. A mar. a desconhecido. Prevalece o vento, a fúria, a tempestade. Tudo em revolta silenciosa do presente. Da incógnita do tempo. Esqueci o sorriso. A nitidez desfez-se em espuma branca lá ao longe. Hoje não é o dia. Nem amanhã. Nem ontem. Este dia nunca existiu. O nada não tem cor. Nem o tempo. Hora após hora as palavras que não se dizem repetem-se constantemente num delírio inacabado de sensações inexistentes. Só mais hoje. Deixa-me ver-te. Tocar o som do mar que já não fazes. Ouvir o que já não sentimos. Falar-te da imensidão deste momento.
E seguir-te para onde já não haja luar.