sexta-feira, 2 de novembro de 2007


Ela não sabe como voltar.

Passava-se tudo em câmara lenta, muito muito lenta… Cores e gestos que se confundiam, que demoravam a formar-se… Movimentos, sorrisos e brilho ao som de música intensa e também lenta. Tudo começava a fazer sentido nesta imagem que misturava todos os passados possíveis e todos os sentimentos numa só consciência, num só momento, numa só recordação…

Há uma praia deserta na alma de cada olhar.

(Nunca mais quero sentir o passar do tempo na alma.
Nunca mais quero ver o teu olhar, nem sentir o vento frio de qualquer noite na pele. Só há estrelas tristes. Não há passado nem presente nem futuro. Só a mente que não se distrai.
Nunca mais quero sentir a tua mão na minha. Fria e distante.
Desaparece. Não te peço mais nada nesta vida. Assim da mesma maneira que um dia apareceste a sorrir…evapora-te agora no ar gelado. Faz estas memórias acabarem. Nem só por mais um momento quero viver esta tortura, faz tudo o que puderes para eu nunca mais querer saber de ti. Faz-me acreditar que não existes. Só queria saber como era o mundo antes de ti. Não te despeças. Faz o que te peço. Queria só viver em paz. A paz que não tenho. Será pedir muito? Não posso viver com o teu pensamento na minha mente. Acabou-se tudo o que em alguma vez acreditei. Já nem o ar é puro.
Desaparece daqui. Nunca mais quero saber de nada. Nunca mais. Nunca mais quero sorrir para ti. Nunca mais quero chorar este tempo que não passa. Só quero que me deixes em paz. Para sempre. Só esta vez. Só esta vida. Vai embora! Ouves?... Vai mesmo… que não fique nem mais uma invisível réstia de ti. Já disse que não quero morrer. Só que vás embora. Ou então eu vou. Para nunca mais voltar).

A praia continuava deserta e com muito sol. As imagens tinham desaparecido. Mas era bom saber que as podia recordar assim, entre o esquecimento e a inconsciência, fora dos limites físicos dessa recordação, só tinham ficado os sentimentos bons sem a vertigem da ausência. Poder recordar sem saber com exactidão qual o verdadeiro objecto da saudade.

Já não tinha forças. Deixei que me levassem. Só por ir… Só por não poder ser de outra forma.

Agora sim, tudo estava exactamente como devia estar. À deriva.

5 comentários:

Cláudia I, Vetter disse...

Saudações!

''A estrela

Vi uma estrela tão alta
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que na sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-la na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
mais triste ao fim do meu dia.''

[Mário Quintana]

cabe quase como profecia de tão denso e visceral desabafo.

Belo!

;**

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá, linda postagem.
Parabéns.
Beijinhos,
Fernandinha

Maria disse...

Vim visitar-te....
O teu espaço é curioso... gostei...
Um abraço

ruth ministro disse...

Já senti tudo isto... Adorei a forma como descreveste esta amálgama de sentimentos. Muito bom. Beijinhos

Fabrício Fortes disse...

muito, muito bom isso aqui!
expressa de forma singular algo que pode ser feito de muitas formas banais..
belo texto