quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

ESPERA!...

(Podia esperar agora, todo o tempo do mundo, todos os dias, toda a vida...)

Estamos mesmo no fim da caminhada, mas por incrível que pareça mantemos o mesmo ritmo de sempre. Nem corremos nem paramos. São só as sombras que vão aumentando discretamente e mudando de forma, à medida que o sol se vai, muito devagarinho.

(Podia fazer só uma pequenina pausa, nisto a que chamamos vida, e esperar...só mais um bocadinho por ti, só mais esta tarde. E, já agora, por mim).

Que cor tem esse tempo que eu quis escrever, afinal? A estrada continua cinzenta e despida e cheia de chuva, Mas a cor não, não era cinzento. Não foi o tempo que esquecemos foi só a cor. Já nunca mais lembraremos a cor. Agora será sempre tarde, mesmo para uma simples recordação. Toda a vida explosão que nunca explodiu. A eterna indecisão e inacção. Já nunca mais teremos medo. Nem sol no pensamento.

Podia também dizer-te agora, e com toda a certeza, que nada mudou... mas não vou dizer. Nem agora, nem nunca mais.
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É natural que tenhas medo que te apanhem. A guerra continua tão estranha. Dum dia para o outro, já não sabemos que esperar. Tomamos os comprimidos, como todos os outros, só que o efeito é o contrário do que pretendemos. Nós queríamos ser felizes.
Ninguém nos acompanha nisto. A noite desce como um pano. As pessoas desaparecem, como se fossem para casa. Não temos maneira de saber o que está certo.
Dou-te as flores de onde vim, que vieram comigo, que atravessaram o mundo não se sabe bem porquê. Os teus olhos continuam iguais. É preciso insistir. Não fazemos diferença um do outro. Percorremos distâncias enormes, junto dos faróis e dos comboios, com a música muito alta, sem dizer nada que nos interesse. Não nos conhecemos. Nunca seremos interessantes. O carro precipita-se em vez de nós. A paisagem substitui as nossas caras.
Eu gostaria tanto de amar-te. Quando te tomo nos meus pensamentos, vai a noite escura ao largo da gente e das árvores, e eu penso que a minha alma te pertence. Pudera eu, meu amor, ou lá o que és, que pudesse pertencer a alguém.»

(Miguel Esteves Cardoso in O Amor é Fodido)

3 comentários:

Mercúrio disse...

"Podia também dizer-te agora, e com toda a certeza, que nada mudou... mas não vou dizer. Nem agora, nem nunca mais."

As coisas mudam e é nisso que está o encanto... o entender que mudam e fazer o que te pede a intuição

Que belo pedaço de ti aqui deixaste...

bj telefónico

Elvira Carvalho disse...

Espero que tenha tido um óptimo Natal, e que 2008 seja o ano da sua realização pessoal e da concretização dos seus desejos.
Um abraço.

CLÁUDIA disse...

"Podia também dizer-te agora, e com toda a certeza, que nada mudou... mas não vou dizer. Nem agora, nem nunca mais."

Acabaste de o dizer. Mesmo que o tenhas dito para nunca mais...

Boas Festas para ti também. ;) ***