domingo, 30 de dezembro de 2007

CRYSTAL SHIP




1993 (REVISITED) ....

"The time you ran was to insane, we'll meet again, we'll meet again..."

UM arrepio que a alma deixa escapar, de cada vez que a memória se distrai numa qualquer sombra de um momento qualquer, de um daqueles dias já passados, de uma daquelas horas, de um daqueles instantes. É só mais um ano que passa, que nos distancia, não é só a nostalgia, é mais a saudade de nós naquele tempo ainda tão próximo, mas já cada vez mais distante... Impossível de se alcançar.
Tão velhos e tão novos, a meio da noite a saltar muros, tão altos!....


sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Onde estavas quando te esqueci?

I. (Tinha que publicar isto Hoje de novo, ainda que não saibas porquê, ainda que nem sequer leias...)

Era o tempo que já não passava, ou que já tinha passado de vez. Havia uma instabilidade de pensamentos que já não se conseguia ordenar, que nunca mais se conseguiria. Era como uma onda de tempo a atravessar pequenas dimensões invisíveis de memória.
Foi então que nos lembrei ao fim da noite ou da manhã à porta ou à janela de um salão perdido no tempo.
As memórias já se perderam ou perderam a verdade que acaba por ser ainda mais triste. Mas o olhar não se esquece. É como um punhal doce ou uma flor de gelo que nunca morre…
As palavras onde ficaram? As palavras e os sentimentos atrás das palavras?...
- Has this dream stopped?
- yes.
- why?
"Where are the feasts we were promised, where’s the wine, the new wine? Dying on the vine."
Tudo muito cru, frio e real. Assustadoramente real e intenso. Sem espaços vazios para refúgios. Agora a única coisa que existe são os refúgios que escondem nos pensamentos essa realidade. Não por medo. Por esquecimento. Por não haver mais nada.
Não se pode voltar sem se ter partido verdadeiramente. E como seria bom poder voltar. Talvez não. Só a ideia de voltar. A nostalgia de um momento que afinal nunca se viveu…
I will not go. Prefer a feast of friends to the Giant family.
Era o calor do ar que apertava o coração.
Como é que eu podia ter ficado só até ao último instante? Se já era tão tarde para haver um último instante. Se tivesse havido teríamos ficado. O que custava lembrar só mais um instante?
Sorrisos fora do tempo. Ou o tempo a passar fora de nós e dos sorrisos. Sons de palavras a ecoarem a emoção desconhecida, ainda…
Can you find me soft asylum i can’t make it anymore.
Nada suave. Havia um corredor escuro durante a manhã, que depois deixava entrar um pouco de sol.
E música fechada. Da janela baixa só se via um bocadinho de céu. Que era tudo o que existíamos. Os sentidos confundem-se. Estamos agora do lado de fora a ver a música, a sentir os passos a passar invisíveis, a ouvir a angústia e a alegria incondicional do nunca mais.
Se ao menos tivesse havido um espelho. E mais sol. É do sol que sinto mais falta em todas memórias amachucadas como papel velho. Seria tão melhor recordar tudo com muito brilho e claridade. O que somos nós dentro de um pensamento. Haverá mais luz dentro de um pensamento.
"A Vision shimering shifting moving in false fire light...
A Vision of the Visions protecting me from fear at night".
Mas não há momento que dure uma vida inteira nem sentimento que dure um sorriso inteiro. Nem abraço que não morra antes de nascer. Na penumbra do vazio, na tristeza de acabar… Não há ternura numa lembrança porque a ternura morre com o tempo a ternura do passado perde-se como quase tudo e todos os sentimentos descritos e sentidos são presentes. Só a imagem e falta de sol perdura. É só de formas sem movimento feito o nosso passado. É então que a memória se torna triste, repetitiva e insistente, na tentativa vã de parecer real, de ter realmente existido ainda que num outro universo qualquer. Há depois os limites físicos do esquecimento. O que fica marcado na pele da alma. Impossível de apagar. As tais formas, mas mais intensas e mais verdadeiras. As únicas. O que já não queremos lembrar. Ironicamente é só isso que fica gravado. Sorris, vejo que sorris por tudo e por nada, talvez mais por nada. Um passo. Abri a porta da cozinha e o calor entrou debaixo da árvore o vento quente de verão. Mas estava só o deserto lá fora. Senti o mesmo calor mas já só existia tudo igual e tudo vazio de nós. De nós encostados à parede fria a ver estrelas a reflectiram no chão cinzento. Sentes o chão a fugir debaixo dos pés? Não aquele chão. Este chão.
Winter’s so cold is that the reason…
Se já não tivermos o tempo temos o pensamento.
As ondas de um mar claro. O amarelo da areia e do sol. O fresco vento do desconhecido, do desconhecimento e da mudança. Não são visões, são sentimentos inacabados. Bocados de vida encaixados em tempos errados, o puzzle verde da memória a inflitrar-se cada vez mais e a trocar a vida pela memória, ainda intacta. Afinal intacta. Sempre. Ai de quem a tornar visível. Perder-se-á completamente na rede sinuosa e insidiosa do tempo mental… O quente deixa de ser quente para se tornar insuportável e o frio torna-se ameno e agradável. Os sorrisos são engolidos por uma onda fria de silêncio e os abraços por uma onda de vento frio. Como ruído de fundo temos a vida. Mais ou menos musical, mais ou menos barulhenta. Às vezes feita silêncio.


Estás agora tão perto que me afasto com medo. Com tanto medo.
Lembrar o passeio por percorrer e sol a nascer atrás dos montes, onde não há mar, o sol não se pode pôr... Há só um subtil escurecimento. Tão suave e tão vazio, tão vazio de ruído e ,movimento.
"Stay, Faraway so close"…
Salva-me da realidade da noite em que disseste que seguir estrelas era o mais importante, que era só isso q valia a pena.. mesmo que nunca se conseguisse… E eu que tinha percebido que era estudar estrelas… Nunca percebi que estudar é só compreender friamente, que destrói tudo. Mas tu tinhas um brilho no olhar diferente de tudo o que já tinha visto, e agora sei que podias até ter estudado mil estrelas que nunca perderias a inocência da sua beleza….
Mas mais uma vez os tempos desencontram-se na periferia da vida, os nossos planos de acção por mais que se aproximem nunca se cruzam, nunca coincidem. Entro no palco e está escuro. Sei que estás no meio da camada escura da massa que é o público. Tu lá no meio, certeza absoluta, depois de tanto tempo. O que fazer senão fingir por momentos que não me sinto, que não sou eu que vive aquele papel, e fugir ali mesmo sem sair do sítio, percorrer sem fôlego toda a vida. O que deves ter sentido tu, meu deus, seja lá ele quem for, ao ver-me ali sem estar verdadeiramente ali. Talvez também tu nunca tenhas feito parte daquela assistência atenta. Talvez a tua alma tenha ido ter com a minha num local secreto mesmo atrás do palco. Nunca vamos saber.
Toda a gente pensa que sabe tudo. A janela aberta numa noite quente, a luz alheia a iluminar o desespero do último beijo de angústia, o último momento de desespero…
I’m sticking with you, cause i’m made out of glue…
Subi as escadas sem saber o que ia encontrar. Não estava escuro nem luz lá em cima, nem silêncio nem vida, nem vida nem morte. Só a réstia de passado e futuro misturadas naquele presente tão artificial. Chamaste por mim e eu já arrependida de ter subido as escadas. Como me lembro do branco das gargalhadas e das camisas. Como se fosse hoje e o presente fosse afinal real. Como me lembro de mim na efemeridade do momento, do sorriso, da visão.
O amanhecer chegava sem pressa mas as horas passavam devagar ao som de umas notas musicais tão vulgares. Era uma mistura de paz e vazio. Do calor da alma e do frio da manhã. Nunca mais fomos iguais, nunca mais fui igual a ti, nem tu a mim.
“Não pares de lutar, agarra o dia a nascer, há uma batalha a travar só tu podes vencer… Um lugar ao sol, sempre teu….”
Tu não sabes que foi esta música que selou o fim dessa cumplicidade de olhares puros.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

ESPERA!...

(Podia esperar agora, todo o tempo do mundo, todos os dias, toda a vida...)

Estamos mesmo no fim da caminhada, mas por incrível que pareça mantemos o mesmo ritmo de sempre. Nem corremos nem paramos. São só as sombras que vão aumentando discretamente e mudando de forma, à medida que o sol se vai, muito devagarinho.

(Podia fazer só uma pequenina pausa, nisto a que chamamos vida, e esperar...só mais um bocadinho por ti, só mais esta tarde. E, já agora, por mim).

Que cor tem esse tempo que eu quis escrever, afinal? A estrada continua cinzenta e despida e cheia de chuva, Mas a cor não, não era cinzento. Não foi o tempo que esquecemos foi só a cor. Já nunca mais lembraremos a cor. Agora será sempre tarde, mesmo para uma simples recordação. Toda a vida explosão que nunca explodiu. A eterna indecisão e inacção. Já nunca mais teremos medo. Nem sol no pensamento.

Podia também dizer-te agora, e com toda a certeza, que nada mudou... mas não vou dizer. Nem agora, nem nunca mais.
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É natural que tenhas medo que te apanhem. A guerra continua tão estranha. Dum dia para o outro, já não sabemos que esperar. Tomamos os comprimidos, como todos os outros, só que o efeito é o contrário do que pretendemos. Nós queríamos ser felizes.
Ninguém nos acompanha nisto. A noite desce como um pano. As pessoas desaparecem, como se fossem para casa. Não temos maneira de saber o que está certo.
Dou-te as flores de onde vim, que vieram comigo, que atravessaram o mundo não se sabe bem porquê. Os teus olhos continuam iguais. É preciso insistir. Não fazemos diferença um do outro. Percorremos distâncias enormes, junto dos faróis e dos comboios, com a música muito alta, sem dizer nada que nos interesse. Não nos conhecemos. Nunca seremos interessantes. O carro precipita-se em vez de nós. A paisagem substitui as nossas caras.
Eu gostaria tanto de amar-te. Quando te tomo nos meus pensamentos, vai a noite escura ao largo da gente e das árvores, e eu penso que a minha alma te pertence. Pudera eu, meu amor, ou lá o que és, que pudesse pertencer a alguém.»

(Miguel Esteves Cardoso in O Amor é Fodido)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

INDEFINIÇÃO


A cor de um tempo que já não temos, que nunca vivemos, que já esquecemos. (-Onde está o teu sorriso?) A cor do nunca mais, do para sempre. O que se confunde já não é o que se diz, mas o que se pensa. O que se vive já não é o que se sente é só o que se poderia ter sentido. Eu tinha-te dito que acreditava que o mistério do universo havia de ser alguma coisa muito simples e muito bela.
(-Mas onde se escondeu o teu sorriso?-Continuo a perguntar insistentemente! Porque não o encontro, não o sinto, já não o vejo por entre toda esta multidão...)
Este tempo que não morre, que teima em permanecer e passar ao mesmo tempo. Tudo parte do mesma matéria que não é nenhuma. Antes de morrer e depois de nascer.
Podias vir salvar-me só mais hoje, num outro fim de tarde cor de laranja. Eu que já te salvei tantas vezes, vezes sem conta... Mas o que já passou já não tem a mínima condição de existência debaixo deste céu tão cinzento, deste universo tão terrivelmente indiferente a tudo o que nos acontece...
Talvez não me possas salvar mas pelo menos vem ver sentir este frio comigo, vem de uma vez compreender porque perdi toda a esperança. Sentir o que já não sinto. Ser eu, entrar na minha alma, para finalmente entenderes o que não entendo. Todos os dias que passam parecem saídos de histórias de livros, sabias? De romances estúpidos inacabados, sem nexo. Dias todos iguais que se sucedem sem lógica racional, e pensamentos que os acompanham fora dessa lógica, todos repetidos mas todos misturados. O dia da felicidade e do descanso, esse tal dia nunca vai chegar.Eu sempre soube. É tudo cíclico. tudo pensamento e terra, tudo incompatível com tudo.
Só se tu hoje o compreendesses também... Só assim, aí sim, poderia descansar, ainda que friamente, e talvez fosse então"feliz" só por um momento muito breve mas talvez já não fosse eu.
Salvar-me de mim? Sorrir de novo. Não olhar para trás. Esquecer. Tornar a ler os dias em vez de os viver.

sábado, 8 de dezembro de 2007

TÃO TARDE APRENDI O AMOR QUE ME ENSINASTE TÃO CEDO


"Se um pouco de conhecimento é perigoso, quem conhece o suficiente para estar livre de perigo?"(T.H .Huxley)

A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento auxilia por fora, mas só o amor socorre por dentro. O conhecimento vem, mas a sabedoria tarda " (A.Einstein)

“Há um destino igual, porque é abstracto, para os homens e para as coisas – uma designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.”
“Para compreender, destruí-me. Compreender é esquecer de amar”
(Bernardo Soares, in Livro do Desassossego – Obras de Fernando Pessoa)

Um dia ensinaram-me que para aprender "ciência" era preciso de lá saír e ver tudo de fora, se possível de cima, de muito longe... Só assim se poderia saber que a ciência é pequena, cinzenta e simples comparada com a vida à volta. Decidi experimentar... Depois quando voltei , quando desci finalmente a Física tinha-se tornado "fácil" e cinzenta, só a vida é que se tinha tornado bem mais difícil e cheia de cores desconhecidas. Toda a beleza é muito relativa e toda a compreensão também. A beleza não precisa de compreensões. A ciência é para mim o fascínio, a forma de se "entrar" no mistério do universo, de penetrar o desconhecido... Mas não é tudo o que existe. É. Há a vida. Sabias? Queria agora conseguir ensinar-te o que ensinaram a mim, mas não consigo. Tenho as palavras presas num sítio qualquer sem nome, o pensamento ficou suspenso entre um passo e outro, indefinidamente. Como fazer-te saber agora tudo o que nem eu sei??!

(Até o que eu chamava amor era nada mais que um amor “quântico” distribuído habilmente por quantidades bem definidas numa descontinuidade infinita. Amor certo, seguro, mais do que previsível na imprevisibilidade constante do universo, e era precisamente essa angústia do constante que não suportavas, tu que também sentias esse amor… que te atormentava… que te fazia viver)…

Um dia vamos descobrir todos tudo ao mesmo tempo, e vamos poder ser finalmente felizes e descansar...


sábado, 1 de dezembro de 2007




Para os que estão tb um pouco fartos da infinita invasão dos filmes americanos...
Aqui fica uma sugestão com qualidade e cheia de nostalgia, boa música, bom cinema, enfim... dark and brilliant...