
"Estou à tua espera num sítio onde as palavras já não magoam, não ferem, não sobram nem faltam. Esse sítio existe". (Inês Pedrosa-Fazes-me Falta)
Enquanto as palavras não voltam. Nem amaina a tempestade...
A eternidade de momentos que nada têm de especial para se guardar na memória. Nem a existência.Pequenas e grandes dimensões dessa memória já se perderam ou perderam a verdade dentro da densidade do pensamento. Mas o olhar não se esquece.
Ela não sabe como voltar.
Passava-se tudo em câmara lenta, muito muito lenta… Cores e gestos que se confundiam, que demoravam a formar-se… Movimentos, sorrisos e brilho ao som de música intensa e também lenta. Tudo começava a fazer sentido nesta imagem que misturava todos os passados possíveis e todos os sentimentos numa só consciência, num só momento, numa só recordação…
Há uma praia deserta na alma de cada olhar.
(Nunca mais quero sentir o passar do tempo na alma.
Nunca mais quero ver o teu olhar, nem sentir o vento frio de qualquer noite na pele. Só há estrelas tristes. Não há passado nem presente nem futuro. Só a mente que não se distrai.
Nunca mais quero sentir a tua mão na minha. Fria e distante.
Desaparece. Não te peço mais nada nesta vida. Assim da mesma maneira que um dia apareceste a sorrir…evapora-te agora no ar gelado. Faz estas memórias acabarem. Nem só por mais um momento quero viver esta tortura, faz tudo o que puderes para eu nunca mais querer saber de ti. Faz-me acreditar que não existes. Só queria saber como era o mundo antes de ti. Não te despeças. Faz o que te peço. Queria só viver
Desaparece daqui. Nunca mais quero saber de nada. Nunca mais. Nunca mais quero sorrir para ti. Nunca mais quero chorar este tempo que não passa. Só quero que me deixes
A praia continuava deserta e com muito sol. As imagens tinham desaparecido. Mas era bom saber que as podia recordar assim, entre o esquecimento e a inconsciência, fora dos limites físicos dessa recordação, só tinham ficado os sentimentos bons sem a vertigem da ausência. Poder recordar sem saber com exactidão qual o verdadeiro objecto da saudade.
Já não tinha forças. Deixei que me levassem. Só por ir… Só por não poder ser de outra forma.
Agora sim, tudo estava exactamente como devia estar. À deriva.
Era só uma questão de tempo.
Ele tinha todo o tempo do mundo. Ela já não tinha tempo nenhum. Ele ia gastando o tempo e poupando na medida exacta que precisasse. Ela ia-o perdendo todo até à exaustão. A Ele sobrava-lhe tempo para nada e a ela faltava-lhe tempo para tudo.
Parece quase vulgar.
É só a causa de um desencontro. De mais um.
Foi só por causa desta relatividade que nunca se encontraram. Cada vez que um se aproximava o outro afastava-se. Para um ainda era cedo e para o outro muito tarde para o que quer que fosse…
(Mas um dia correram tanto pela praia até ficarem sem fôlego, água fria, ondas, gritos, almas em verdadeiro alvoroço. Sem pensar. Só pelo prazer de correr. Voaram pelas últimas nuvens de recordações e caíram por terra já sem forças nem voz. Sentiram a chuva fria na pele e na alma…) Depois ela pediu-lhe que lhe desse a mão e lhe lesse uma história antiga . Ele pegou-lhe na mão e ficaram assim muito tempo a sentir o silêncio de uma inexistente intimidade. Tanto e tão pouco…Podiam ter-se conhecido só um pouco menos… só um pouco melhor…
Assim continuaram em silêncio toda a noite. E todas as outras…Indefinidamente…
É assim que gosto de pensar, neste cenário reconfortante, quente e feliz.
Password:sidewalk. Em que estaria eu a não pensar?
Também esta password que usei todo o tempo é reflexo de eu ter estado sempre do lado de fora de tudo. Inclusivamente de ti, e de mim…
(Faltou-me o ar e o chão ao mesmo tempo. Só por uns minutos. Tão poucos que talvez nem sejam no plural. Sei agora porque não chorei desesperadamente como me apetecia. Porque não se pode chorar sem ar. Muito menos viver)
“Mas o pior – escrevia Tarrou – é eles serem esquecidos e saberem-no. Os que os conheciam esqueceram-nos porque pensam noutra coisa, e isso é bem compreensível. Quanto aos que os amam, esqueceram-se também, pois são forçados a esgotar-se em diligências e projectos para os fazerem sair e, à força de pensarem nessa saída, já não pensam naqueles que querem fazer sair. Também isso é normal. E, no fim de tudo, vê-se que ninguém é realmente capaz de pensar em ninguém, ainda que fosse na pior das desgraças. Porque pensar realmente em alguém é pensar minuto a minuto, sem ser distraído pelo que quer que seja: nem os cuidados da casa, nem a mosca que voa, nem as refeições, nem uma comichão. Mas há sempre moscas e comichões. É por isso que a vida é difícil de viver. E estes sabem-no bem.” (Albert Camus – A PESTE)
À força de querer chegar a todo o custo perdemo-nos pelo caminho, distraimo-nos com as cores com o brilho com a luz e os sorrisos e esquecêmo-nos do que é verdadeiramente importante. Há um instante de lucidez que um dia, por um acaso, por uma coincidência, por um segundo nos faz ver claro toda a vida…. Para logo no instante seguinte a voltarmos a esquecer com toda a força e racionalidade do pensamento.
Ao som de algumas palavras que já não demoram na mente, depois do resto música ter acabado, depois de ter ouvido vezes sem conta atrás de vezes sem conta tudo o que já não havia para ouvir.
Guarda-me de ti.
Está um dia de vento e de sol.
Ontem, ou melhor na madrugada de hoje, no momento que quis que também estivesses a pensar em mim, nesse exacto momento uma pequenina luz acende o vazio…eras tu…
O mar é transparente e lá muito no fundo vêm-se pedras cores claras muito quietas resignadas à água parada e calma de início de tarde.
O caminho é árduo e cheira a terra.
Todo o universo vai ter a esta cor para todo o lado que eu fuja.
Hora após hora o silêncio que se esconde atrás das portas para nos lembrar de nós mesmos.
Perdeu-se tudo num só instante.
"These are the seasons of emotion and like the winds they rise and fall
This is the wonder of devotion - I seek the torch we all must hold.
This is the mystery of the quotient - Upon us all a little rain must fall." (RAIN SONG-LED ZEPPELIN)