segunda-feira, 12 de novembro de 2007


"Estou à tua espera num sítio onde as palavras já não magoam, não ferem, não sobram nem faltam. Esse sítio existe". (Inês Pedrosa-Fazes-me Falta)

Enquanto as palavras não voltam. Nem amaina a tempestade...

That's the way...

)

That´s the way

I don't know how I'm gonna tell you,I can't play with you no more,
I don't know how I'm gonna do what mama told me,
My friend, the boy next door.
I can't believe what people saying, You're gonna let your hair hang down,
I'm satisfied to sit here working all day long, You're in the darker side of town.
And when I'm out I see you walking, Why don't your eyes see me,
Could it be you've found another game to play, What did mama say to me.

*That's The Way, Oh, That's The Way it ought to be,
Yeah, yeah, mama say That's The Way it ought to stay.

And yesterday I saw you standing by the river,
And weren't those tears that filled your eyes,
And all the fish that lay in dirty water dying,
Had they got you hypnotized?

And yesterday I saw you kissing tiny flowers,
But all that lives is born to die.
And so I say to you that nothing really matters,
And all you do is stand and cry.

I don't know what to say about it,
When all you ears have turned away,
But now's the time to look and look again at what you see,
Is that the way it ought to stay?
That's the way... That's the way it oughtta be
Oh don't you know now, Mama said.. that's the way it's gonna stay.

(from LED ZEPELLIN III - That's the way)

(I really should go now. Just listen to the music. It sure wants to say goodbye)...


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Caos e Silêncio


"O caos é uma ordem por decifrar."
(Livro dos Contrários), in Homem Duplicado, José Saramago.

Podia ter-te dito que era tudo um sonho, ou que tinha sido tudo inventado.
Antes da despedida ainda não te conhecia e depois, quando te comecei a conhecer já era tarde para qualquer tipo de explicação. Para que são precisas explicações se existem sentimentos? (Outra coisa que também nunca percebi).
Não é só o tempo que passa, há muita coisa a passar com o tempo. Foi preciso só um momento, um muito leve momento para se passar todo o tempo do mundo na minha frente, assim, de repente, num sorriso teu, vindo do nada.
(Eu também já passei e tu não viste. Só porque eu não quis).
Resta um cansaço. Sensação estranha de perda. Frio. Vontade de agarrar aqueles últimos momentos. Camuflar de novo a visão. Existir só. Num movimento lento fazer-se silêncio outra vez.








sexta-feira, 2 de novembro de 2007


Ela não sabe como voltar.

Passava-se tudo em câmara lenta, muito muito lenta… Cores e gestos que se confundiam, que demoravam a formar-se… Movimentos, sorrisos e brilho ao som de música intensa e também lenta. Tudo começava a fazer sentido nesta imagem que misturava todos os passados possíveis e todos os sentimentos numa só consciência, num só momento, numa só recordação…

Há uma praia deserta na alma de cada olhar.

(Nunca mais quero sentir o passar do tempo na alma.
Nunca mais quero ver o teu olhar, nem sentir o vento frio de qualquer noite na pele. Só há estrelas tristes. Não há passado nem presente nem futuro. Só a mente que não se distrai.
Nunca mais quero sentir a tua mão na minha. Fria e distante.
Desaparece. Não te peço mais nada nesta vida. Assim da mesma maneira que um dia apareceste a sorrir…evapora-te agora no ar gelado. Faz estas memórias acabarem. Nem só por mais um momento quero viver esta tortura, faz tudo o que puderes para eu nunca mais querer saber de ti. Faz-me acreditar que não existes. Só queria saber como era o mundo antes de ti. Não te despeças. Faz o que te peço. Queria só viver em paz. A paz que não tenho. Será pedir muito? Não posso viver com o teu pensamento na minha mente. Acabou-se tudo o que em alguma vez acreditei. Já nem o ar é puro.
Desaparece daqui. Nunca mais quero saber de nada. Nunca mais. Nunca mais quero sorrir para ti. Nunca mais quero chorar este tempo que não passa. Só quero que me deixes em paz. Para sempre. Só esta vez. Só esta vida. Vai embora! Ouves?... Vai mesmo… que não fique nem mais uma invisível réstia de ti. Já disse que não quero morrer. Só que vás embora. Ou então eu vou. Para nunca mais voltar).

A praia continuava deserta e com muito sol. As imagens tinham desaparecido. Mas era bom saber que as podia recordar assim, entre o esquecimento e a inconsciência, fora dos limites físicos dessa recordação, só tinham ficado os sentimentos bons sem a vertigem da ausência. Poder recordar sem saber com exactidão qual o verdadeiro objecto da saudade.

Já não tinha forças. Deixei que me levassem. Só por ir… Só por não poder ser de outra forma.

Agora sim, tudo estava exactamente como devia estar. À deriva.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Aqui e Agora


Só hoje, só neste momento, apetecia-me gritar tanta coisa ao vento, ao dia, à madrugada. Mas não tenho voz, faltam-me as palavras...Alguma coisa muito forte e muito sincera que separa o coração do pensamento. Muito do que eu queria dizer hoje, neste momento, encontrei-o nestas palavras que se seguem...
Enjoy it...


Elogio ao amor (Miguel Esteves Cardoso)

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amorfechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor éamor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

PASSWORD: SIDEWALK

Era só uma questão de tempo.
Ele tinha todo o tempo do mundo. Ela já não tinha tempo nenhum. Ele ia gastando o tempo e poupando na medida exacta que precisasse. Ela ia-o perdendo todo até à exaustão. A Ele sobrava-lhe tempo para nada e a ela faltava-lhe tempo para tudo.
Parece quase vulgar.
É só a causa de um desencontro. De mais um.
Foi só por causa desta relatividade que nunca se encontraram. Cada vez que um se aproximava o outro afastava-se. Para um ainda era cedo e para o outro muito tarde para o que quer que fosse…

(Mas um dia correram tanto pela praia até ficarem sem fôlego, água fria, ondas, gritos, almas em verdadeiro alvoroço. Sem pensar. Só pelo prazer de correr. Voaram pelas últimas nuvens de recordações e caíram por terra já sem forças nem voz. Sentiram a chuva fria na pele e na alma…) Depois ela pediu-lhe que lhe desse a mão e lhe lesse uma história antiga . Ele pegou-lhe na mão e ficaram assim muito tempo a sentir o silêncio de uma inexistente intimidade. Tanto e tão pouco…Podiam ter-se conhecido só um pouco menos… só um pouco melhor…
Assim continuaram em silêncio toda a noite. E todas as outras…Indefinidamente…
É assim que gosto de pensar, neste cenário reconfortante, quente e feliz.

Password:sidewalk. Em que estaria eu a não pensar?
Também esta password que usei todo o tempo é reflexo de eu ter estado sempre do lado de fora de tudo. Inclusivamente de ti, e de mim…
(Faltou-me o ar e o chão ao mesmo tempo. Só por uns minutos. Tão poucos que talvez nem sejam no plural. Sei agora porque não chorei desesperadamente como me apetecia. Porque não se pode chorar sem ar. Muito menos viver)

Sei que existe alguma coisa chamada perfeição. Mas não a quero. Nunca quis. Só um momento da tua alma e da minha. Com muita chuva a cair por cima desse teu olhar tão indiferente mas tão intenso. Chuva de um mistério de nós...

domingo, 7 de outubro de 2007

UM INSTANTE

Mas o pior – escrevia Tarrou – é eles serem esquecidos e saberem-no. Os que os conheciam esqueceram-nos porque pensam noutra coisa, e isso é bem compreensível. Quanto aos que os amam, esqueceram-se também, pois são forçados a esgotar-se em diligências e projectos para os fazerem sair e, à força de pensarem nessa saída, já não pensam naqueles que querem fazer sair. Também isso é normal. E, no fim de tudo, vê-se que ninguém é realmente capaz de pensar em ninguém, ainda que fosse na pior das desgraças. Porque pensar realmente em alguém é pensar minuto a minuto, sem ser distraído pelo que quer que seja: nem os cuidados da casa, nem a mosca que voa, nem as refeições, nem uma comichão. Mas há sempre moscas e comichões. É por isso que a vida é difícil de viver. E estes sabem-no bem.” (Albert Camus – A PESTE)

À força de querer chegar a todo o custo perdemo-nos pelo caminho, distraimo-nos com as cores com o brilho com a luz e os sorrisos e esquecêmo-nos do que é verdadeiramente importante. Há um instante de lucidez que um dia, por um acaso, por uma coincidência, por um segundo nos faz ver claro toda a vida…. Para logo no instante seguinte a voltarmos a esquecer com toda a força e racionalidade do pensamento.

Ao som de algumas palavras que já não demoram na mente, depois do resto música ter acabado, depois de ter ouvido vezes sem conta atrás de vezes sem conta tudo o que já não havia para ouvir.
Guarda-me de ti.
Está um dia de vento e de sol.
Ontem, ou melhor na madrugada de hoje, no momento que quis que também estivesses a pensar em mim, nesse exacto momento uma pequenina luz acende o vazio…eras tu…
O mar é transparente e lá muito no fundo vêm-se pedras cores claras muito quietas resignadas à água parada e calma de início de tarde.
O caminho é árduo e cheira a terra.
Todo o universo vai ter a esta cor para todo o lado que eu fuja.
Hora após hora o silêncio que se esconde atrás das portas para nos lembrar de nós mesmos.
Perdeu-se tudo num só instante.

"These are the seasons of emotion and like the winds they rise and fall
This is the wonder of devotion - I seek the torch we all must hold.
This is the mystery of the quotient - Upon us all a little rain must fall." (RAIN SONG-LED ZEPPELIN)